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O que é HEDGE econômico

O que é HEDGE econômico
12/03/2019
Eric Barreto
Partner e Prof. do Insper

Em uma tradução literal do inglês para o português, um dos significados da palavra hedge é barreira. Podemos usar esse significado para explicar o que é hedge econômico.

Muitas empresas tomam empréstimos em moeda estrangeira, seja com suas matrizes, com bancos ou mesmo com investidores no exterior. Na maioria das vezes, essa moeda estrangeira é o dólar. E o que acontece se o dólar sobe e as receitas e recebíveis da empresa são denominados na sua moeda local, diferente do dólar? Sim, ela perde dinheiro, compromete suas margens, sua rentabilidade e, em alguns casos, até sua continuidade. O hedge é a barreira que vai tentar conter essa avalanche causada por uma alta do dólar.

Outras empresas, por outro lado, exportam parte da sua produção ou dos seus serviços. Nesse caso, uma queda no valor da moeda estrangeira recebida pela entidade pode comprometer sua capacidade de pagar salários e insumos na moeda local. Mais uma vez, a empresa precisa de proteção.

E as empresas que operam com commodities, como café, milho, soja, cobre, minério de ferro ou petróleo, por exemplo? Sejam compradoras ou vendedoras, elas sofrem com a volatilidade (variação) no preço das commodities, que podem afetar sua riqueza e até representar um risco de insolvência, se elas não contratarem algum tipo de proteção.

No geral, as empresas negociam contratos derivativos, como futuros, swaps, termos e opções, para mitigar esse risco de volatilidade nos preços de moedas, índices e commodities, e engana- se quem acha que os derivativos são instrumentos que aumentam o risco de uma empresa. Se bem utilizados, o efeito é justamente o contrário: o derivativo fará o papel da barreira que conterá um possível desastre.

Quando uma empresa contrata derivativos com finalidade de proteção, dizemos que ela está fazendo hedge econômico, ou simplesmente hedge.

Mas uma empresa pode perder dinheiro operando com derivativos? Partindo do princípio que a entidade foi bem assessorada e que negocia derivativos somente para hedge, quando ela perde dinheiro derivativo, ela ganha no item protegido. Explico por meio de dois exemplos: aquela empresa que tomou empréstimo em dólar, no caso de uma queda na cotação da moeda americana, deve perder dinheiro nos derivativos contratados para hedge, no entanto, essa perda será compensada por uma queda no valor que pagaria pela dívida. Na empresa exportadora, uma alta no dólar deve causar uma perda no derivativo contratado para hedge, porém, o prejuízo será compensado por ganhos nas receitas de exportação, que serão maiores quando convertidas para a moeda local.

E hedge sem derivativo, é possível? Como uma empresa poderia proteger-se do risco de mercado sem os instrumentos financeiros derivativos? Em alguns casos, uma empresa exportadora pode se proteger tomando empréstimos em dólar, em vez de contrata-los na sua moeda local, ou ainda, uma importadora poderia manter aplicações financeiras em dólar. Tendo ativos e passivos em moeda estrangeira, os fluxos de caixa positivos compensarão os fluxos de caixa negativos, produzindo o que chamamos de hedge natural. A Petrobras, que tem uma parcela significativa de receitas provenientes de exportação ou atreladas à cotação da moeda americana, construiu um hedge natural ao contratar dívidas em dólar.

E derivativo sem finalidade de hedge? Isso também pode acontecer, ou seja, um derivativo pode ser usado como estratégia para potencializar os ganhos de uma aplicação financeira.

Nesses casos, recomenda-se que o aplicador trabalhe somente com bons especialistas e que entenda os riscos da operação contratada. Normalmente, chamamos esses derivativos de especulativos. Como eles não são o objeto principal desse texto, não vamos discorrer sobre eles, mas vocês devem encontrar material na internet sobre a combinação de derivativos com outros instrumentos financeiros se pesquisarem pelos chamados Certificados de Operações Estruturadas (COE). Ah, também tem um livro do Fábio Zenaro sobre COE...

Por que as empresas não deveriam operar com derivativos especulativos? Ora, o derivativo é como um seguro, então, se eu contratar um derivativo para um risco que eu não possuo é quase como contratar um seguro para um carro que não é meu. Em outras palavras: eu posso até ganhar dinheiro com esse contrato, mas não estou usando como proteção, e sim especulando com a probabilidade de ocorrer um sinistro com o tal carro. Ao investir recursos em uma empresa, o credor ou acionista aposta no sucesso da entidade atuando em determinado setor, e não no seu sucesso investindo no mercado financeiro. Se eu, como investidor, quiser ganhar dinheiro com derivativos, posso fazer isso sozinho, por meio de um assessor ou aplicar em um fundo de investimentos mais agressivo, ao passo que, se colocar meu dinheiro em uma empresa de construção, espero que ela invista no setor de construção, e se eu investir em uma empresa que exporta celulose, espero que ela invista no setor de celulose.

Até aqui, não falamos na contabilidade de hedge. As normas contábeis fazem com que os derivativos sejam sempre mensurados a valor justo (um conceito próximo de “valor de mercado”), e como os itens protegidos (empréstimos tomados, aplicações, contas a pagar, contas a receber, estoques, fluxos de caixa previstos, etc.) geralmente não são mensurados a valor justo, cria-se uma volatilidade terrível no resultado da empresa, preocupando, às vezes desnecessariamente, os usuários das suas demonstrações contábeis. Para aplicar corretamente o regime de competência nas estratégias de hedge, existe um dispositivo, um critério contábil opcional: o chamado hedge accounting. Para entender mais sobre ele, procure os cursos presenciais ou EAD da M2M SABER e outros textos do nosso blog.