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Introdução a Derivativos - Casos Aplicados de Uso de Derivativos, por empresas listadas na B3, em 2020: - Caso Prático 2 - Suzano e Klabin

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20/10/2020
Berenice Righi Damke
Especialista em Gestão de Riscos Financeiros e Derivativos

P1 [00:00:00] Outro caso trouxe bastante comentário no mercado financeiro brasileiro em 2020: foi Suzano e Klabin, duas companhias muito relevantes no seu segmento de papel e celulose, e que apresentaram resultados impactados pela variação cambial.

P1 [00:00:22] Para a gente entender um pouco mais, essa aqui é a evolução da divida, do Ebitda, e a relação entre a divida e o Ebitda dessas companhias. Assim como a gente entender, e claro, tem esses gráficos mostrando a receita e a dívida dessas empresas, e comparando, Klabin em azul, Suzano em vermelho.

P1 [00:00:52] Vale comentar que do ponto de vista de volumes, tanto de receitas quanto de dívidas, a Suzano é uma empresa maior do que a Klabin, então os números de Suzano são maiores, mas Suzano tem um divida valorizada muito grande, e isso tem a ver com toda a necessidade de investimento que a companhia possui.

P1 [00:01:14] Só que esta dívida de volume alto e de longo prazo, em momentos de alta de câmbio, como o que ocorreu no 1° semestre de 2020 no país, traz um impacto importante de despesa de variação cambial sobre o resultado e reduz o lucro, que no caso de Suzano, foi negativo nesse período que nós estamos analisando, que é o segundo três de 2020.

P1 [00:01:36] Isso, claro, incomoda, traz polêmica, traz comentários dos investidores que querem entender o que está acontecendo. Especificamente sobre essa situação, eu fiz uma exploração detalhada, convido vocês para assistirem a entrevista que eu fiz no Damke Entrevista com o CFO de Suzano.

P1 [00:02:00] O professor Eric Barreto também o entrevistou no canal no YouTube, em que ele abordou assuntos mais relativos à questão contábil, mas na entrevista que eu fiz com ele no Damke Entrevista, o CFO explica que a estrategia adotada pela companhia de hedge é uma estrategia de dolarizar o endividamento, associada à uma estrategia de garantir o resultado de curto prazo em reais.

P1 [00:02:32] Então a companhia combina vários derivativos, vamos entender um pouquinho mais como estão essas estratégias. Eu trouxe um destaque, esse eu trouxe do ITR de Klabin, mas se você olhar o de Suzano, tem algo bastante parecido. O que a companhia faz nesse swap? Aqui ela tinha tomado recursos através da emissão de uma debênture, um título emitido em reais, ao custo de 114% do CDI, que ela fez um swap em que ela trocou esta taxa CDI por variação cambial mais R$5,40.

P1 [00:03:10] Vejam que aqui a companhia passa a dever dólar. e dessa forma, na medida em que a taxa de câmbio sobe, essa variação cambial passa para a contabilidade, sendo uma despesa financeira, porque nesse caso, a companhia também não usa o hedge accounting, então todos esses efeitos vão diretamente para o resultado.

P1 [00:03:35] Aqui a ideia é que o foco é o caixa, e essas companhias se consideram companhias eminentemente exportadores, e de tato são, e por tanto, a decisão de dever em dólar tem a ver justamente em criar um hedge natural para essas exportações que vão acontecendo ao longo do caminho.

P1 [00:03:58] Aqui um destaque para aquela operação famosa chamada de zero cost collar, e ela ficou famosa justamente porque ela apareceu não só na Suzano, mas em várias outras empresas listadas na B3 como uma estratégia para head de curto prazo.

P1 [00:04:18] Aqui a companhia faz um head para as exportações dolarizadas, para se prevenir de um baixa da taxa de câmbio e, dessa maneira, mitigar o risco dessas exportações gerarem menos reais do que ela gostaria de receber nas datas de recebimento da moeda estrangeira.

P1 [00:04:39] Então vejam que nesse caso, o gráfico deste collar é parecido, ele lembra aquele gráfico de uma venda de INBF. Lembra que olhamos para esse gráfico num vídeo em que comparamos ele com opções? Sim, uma venda de INBF, pura e simples, seria um gráfico em que a gente teria uma única reta. A companhia recebe quando o câmbio cai, porque nesse caso, ela está vendida, ela está fazendo hedge de exportação.

P1 [00:05:09] Então ela recebe no movimento de baixa de câmbio e paga no movimento de alta de câmbio. Vejam que nessa estrutura de collar, em vez de ter uma única taxa, tem duas taxas de câmbio, e nesse exemplo que eu trouxe do ITR do primeiro trimestre de 2020 da Suzano, a gente tinha uma estrutura.... Na verdade, consegue ver aqui que ela fez vários dessas operações de collar, a gente tem operações para diferentes trimestres, e ela foi colocando a taxa de câmbio que ela usou, a máxima e a mínima, que são justamente os preços de exercícios da call e da put nessas estruturas.

P1 [00:05:54] Então nesse exemplo que eu coloquei aqui, eu usei essa taxa média, e só para ilustrar, para te mostrar como é que funciona, você poderia desenhar esse gráfico para todas essas estruturas, mas o efeito sempre vai ser esse, ou seja, esse zero cost também tem, claro, a sua marcação a mercado, o seu ajuste, e isso tudo vai para o resultado.

P1 [00:06:20] Dessa forma, vejam que a companhia recebe quando a taxa de câmbio cai e paga quando a taxa de câmbio sobe, ou seja, nesse movimento de alta de câmbio, câmbio acima de R$5, como houve neste período no primeiro semestre de 2020, as companhias precisaram reportar marcação no mercado e ajustes negativos nestas operações de collar, e isso, mais uma vez, impactou negativamente o resultado, incomodou alguns acionistas.

P1 [00:06:53] O que a gente pôde ver analisando essa demonstração financeira é que a companhia não usou nenhum tipo de derivativo tóxico, não. Nada parecido com aquilo que aconteceu na crise de 2008 com algumas empresas, mas sim, ela fez uma combinação de estratégias de hedge, dolarizando o seu caixa, e, do ponto de vista do resultado, essa dolarização do caixa no movimento de alta de cambio, produziu despesas financeiras importantes por causa dessa variação cambial que precisa ser refletida na contabilidade.

P1 [00:07:29] E aí, claro, ficou uma certa polêmica, e tem uma parte das notas explicativas que podem nos ajudar a entender melhor essa situação: "Puxa vida, a empresa exportadora nos dá prejuízo quando o cambio sobe, que estranho." Quando a gente vai para a nota explicativa de gerenciamento de risco, fatores de risco, algumas companhias trazem isso logo no início das notas explicativas, outras fazem mais para o final, mas essa é uma nota muito rica para a gente entender melhor os fatores de risco que as companhias estão sujeitas e como elas usam os derivativos para se proteger.

P1 [00:08:08] Aqui, a Klabin mostra que em cenários de alta da taxa de câmbio, o que acontece é que ela perde. E não foi eu que falei que perde não, foi ela que escreveu que perde, e eu não gosto muito de usar essa nomenclatura, eu já falei para vocês. Mas a companhia usa muito essa nomenclatura, se a gente olha a demonstração financeira, ela própria fala sobre os resultados de derivativos, como ganha e perde.

P1 [00:08:44] Então ela coloca aqui que ela perde toda vez que o câmbio sobe, e isso sobre todas essas situações que ela possui envolvendo caixa e seus recebíveis, são contas a receber envolvendo os seus diversos ativos e passivos em moeda estrangeira e os seus financiamentos. Então como a exposição cambial líquida é devedora, porque existe um volume grande de endividamento de longo prazo, ela não consegue se beneficiar da alta da taxa de câmbio, embora seja exportadora, justamente por causa do descasamento de prazo que existe nesta situação.

P1 [00:09:20] Convido vocês a ler mais e sempre se informar mais sobre essa história envolvendo Klabin e Suzano e deixo aqui alguns links, algumas sugestões de leituras e vídeos para complementar isso que nós acabamos de debater.