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Contabilidade para Investidores - Geração de caixa - Análise da DFC

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30/09/2020
Eric Barreto
Partner e Prof. do Insper

Nós vamos agora falar um pouquinho sobre a demonstração dos fluxos de caixa, a DFC.

A demonstração dos fluxos de caixa é um relatório que eu gosto bastante de analisar, porque traz informações sobre como uma empresa gera caixa em determinado período. Além do resultado que a gente tem na demonstração de resultados, além da posição patrimonial que a gente tem no balanço patrimonial, é muito importante a gente avaliar se uma empresa gera caixa ou não.

E aí eu não estou falando de Ebitda, que é o potencial de geração de caixa operacional. Quando eu olho para a DFC, ela me mostra o caixa que foi efetivamente gerado em determinado período. E ela mostra segregando a geração de caixa, segregando a variação do caixa de um período em três blocos: fluxo de caixa das atividades operacionais, fluxo de caixa das atividades de investimento e fluxo de caixa das atividades de financiamento.

Essa demonstração é como se a empresa estivesse mostrando como o caixa variou em um período. Ela sai de um caixa inicial, vamos chamar de Caixa I, e chega em um caixa final. A gente poderia dizer que esse caixa inicial, por exemplo, é o caixa em 31/12/2019, e que o caixa final é o caixa de 31/12/2020. A soma desses três bloquinhos vai mostrar justamente a variação no caixa dessas duas posições.

Bom, sempre que a gente pensa em investimento, seja para comprar ações de uma empresa ou para comprar uma quantidade maior, para adquirir o controle de uma entidade, para fazer um investimento pequeno ou um investimento grande, a gente pensa na operação da empresa.

Eu quero saber se a empresa gera caixa com a operação dela, não se ela está fazendo aplicações no mercado financeiro, se ela está ganhando dinheiro com títulos públicos, com CDBs. Porque se eu quiser correr o risco de taxa de juros, se eu quiser ganhar dinheiro com a aplicação financeira, eu vou colocar o meu dinheiro diretamente em uma aplicação financeira, que eu tenho até mais segurança quanto a esse retorno.

Eu não quero investir indiretamente no mercado financeiro. Se eu invisto em uma empresa de bebidas é porque eu acredito no negócio de bebidas. Se eu invisto no setor de construção, em uma empresa do setor de construção, é porque eu acredito que esse setor tem potencial para gerar resultados em períodos futuros. É por isso que é tão importante a gente observar se a empresa gera caixa com a operação.

E o caixa operacional começa com o lucro. Então, nada mais importante que a gente espere... Nada mais natural que a gente espere que o fluxo de caixa operacional seja positivo. Uma empresa que está estável ou uma empresa que já opera há um determinado tempo, a gente espera que a empresa gere fluxo de caixa positivo com a sua operação.

Bom, e se a empresa gera caixa negativo? O que acontece se a empresa está gerando caixa negativo com a sua operação? Simplesmente vou interpretar que a operação dela está ruim? Calma, pode ser isso. Como a gente está falando que o fluxo de caixa operacional começa com o lucro, com o resultado, pode ser que essa empresa esteja dando prejuízo ou que ela não dê lucro suficiente para pagar os seus gastos operacionais.

Então pode ser isso, pode ser um problema de performance. Ou pode ser que essa empresa seja uma iniciante, uma startup. Uma startup não está gerando caixa ainda com a sua operação e ela ainda está investindo. Pode ser que a gente tenha aqui uma empresa está em uma curva acelerada de crescimento.

Por exemplo, as construtoras, no período que elas estavam melhor, que elas estavam gerando muito lucro, elas não estavam gerando caixa com a operação. E por que isso? Porque quanto melhor era o resultado, mais as empresas decidiram investir. E quando uma construtora investe, ela investe no estoque. Então o estoque dela está crescendo, o estoque é operacional, consumindo o caixa da operação.

E a empresa vende a prazo. Quando ela vende a prazo, ela está gerando receita. À medida que as obras vão evoluindo, ela está gerando receita. Porém, essa receita não está virando caixa imediatamente. Ela está virando contas a receber. Então, para uma empresa que está em franco crescimento, o estoque e o contas a receber estão consumindo o caixa da operação.

O exemplo que eu dei sobre construtora chama mais atenção ainda porque as construtoras têm um negócio de longo prazo. Então o contas a receber é de longo prazo, o estoque também é de longo prazo. O caixa da operação demora mais para aparecer, então o lucro demora mais para se transformar em caixa.

Então é importante a gente entender aquele regime de competência, essa diferença entre geração de caixa e lucro. As duas coisas são importantes. Aqui a gente está olhando para a geração de caixa. Eu quero que a operação da empresa que eu invisto gere caixa positivo. Só que se ela gerar um caixa negativo, eu tenho que perceber qual é o momento dela.

Se o momento é um momento de expansão, uma curva muito inclinada de expansão, ou se a empresa está iniciando suas atividades, tudo bem, não é um problema tão grande ter um fluxo de caixa operacional negativo.

Agora os investimentos. O que eu espero de uma empresa? Se a empresa está em um setor legal que está em crescimento, é uma empresa que tem um potencial, eu espero que a empresa invista no negócio dela. Eu espero que ela invista e que esse investimento se transforme em resultados futuros. Quando a empresa investe, ela consome caixa.

Então, se o fluxo de caixa de investimentos é negativo, normalmente é um bom sinal. Quer dizer que a empresa está investindo. Então ela está investindo o caixa que foi gerado na operação. Ou pode ser que ela está investindo caixa que ela captou com sócios ou com bancos. Mas é importante, a empresa está investindo.

Quando a gente vê um fluxo de caixa positivo, normalmente a empresa está desinvestindo. E aí a gente tem que analisar. O que a empresa está desinvestindo? Ela está desinvestindo porque a operação dela é problemática, então está vendendo ativos para gerar caixa? Isso é problemático.

A empresa está desinvestindo porque ela quer dar foco em algum negócio que é mais rentável e está desinvestindo alguma operação que não é muito o core da empresa, então isso é estratégia. É legal a gente perceber se a empresa está desinvestindo por uma questão estratégica.

Ou às vezes a empresa está desinvestindo... A gente vê um fluxo positivo aqui de investimentos, mas isso não é bem um desinvestimento, é um resgate de uma aplicação financeira. Então a gente tem que perceber aqui essas sutilezas, o que significa um fluxo de caixa de investimento positivo.

O negativo, então, a empresa está investindo. Claro que a gente tem que ver se a empresa está investindo mesmo em imobilizado, em intangível, em investimento. Ver se isso aqui não é só aplicação financeira e comparar a ordem de grandeza desse investimento com a ordem de grandeza dos fluxos operacionais, para a gente saber se a empresa investe uma boa parte do que ela gera com operação.

Comparar a ordem de grandeza desse número aqui com depreciação e amortização. Porque depreciação e amortização é consumo do valor de ativos. Ativos estão sendo consumidos, isso está sendo mostrado no numerozinho da depreciação e da amortização. Então você compara esse numerozinho aqui com o fluxo de investimentos para saber se a empresa está investindo de fato em crescimento ou se ela está simplesmente repondo ativos desgastados.

Por último, o fluxo de caixa de financiamentos. Ele mostra se a empresa está mais captando ou se ela está mais devolvendo dinheiro para os acionistas e para credores. Então, nesse fluxo de financiamento, esse é o cara que fecha a conta no final. Porque a gente partiu de um caixa inicial. Vamos supor que esse caixa inicial seja de R$100.

E que esse caixa de R$100 seja suficiente para a empresa continuar operando aqui no final do período. A empresa entende que ela não cresceu muito, ela se manteve estável, então ela terminar com o mesmo caixa de R$100 é legal.

Ou vamos colocar uma outra hipótese. A nossa empresa saiu de um caixa de R$100, ela teve um crescimento e tal. Então, agora ela entende que, para a atividade dela, para os investimentos que ela vai fazer no período, seria legal ela terminar o período com caixa de R$110.

Então, independente do que está acontecendo aqui no meio, é importante a empresa planejar qual o nível de caixa que ela precisa. Então isso aqui sai de um valor que é dado e a empresa planeja como ela quer estar, qual é o caixa que ela precisa para se manter.

Vamos supor o seguinte, que a nossa empresa... Vou colocar alguns numerozinhos aqui. Vamos supor que a nossa empresa gerou com a operação R$1 milhão de caixa, um valor positivo. E vamos supor que a empresa consumiu com investimentos R$950 mil. Então ela gerou R$1 milhão, consumiu R$950 mil. Bom, se ela precisa e planejou terminar o caixa com R$110, o que está acontecendo?

Ela partiu de R$100. 1.000 menos 950. Quer dizer que, juntando esses dois bloquinhos aqui, ela gerou caixa de R$50. Então, R$100 mais R$50, a empresa já está com o caixa de R$150, mesmo antes da gente considerar o fluxo de caixa dos financiamento.

Quer dizer que essa empresa pode, no líquido desse bloquinho aqui, ela pode consumir R$40. Ela pode consumir R$40. Então a empresa vai gerenciar isso aqui, porque ela vai ter parcelas de empréstimos para pagar. Vou chamar aqui de PMT, que são valores negativos que ela tem para pagar. Ela vai, se teve lucro, pagar dividendos, valor negativo também.

Em função desse planejamento, a empresa vai programar o quanto ela vai tomar de novos empréstimos, se eventualmente também... Vai analisar o mercado, se eventualmente vale a pena fazer uma captação por emissão de ações, fazer um IPO ou alguma coisa do tipo.

Mas a empresa está olhando... No final, ela está olhando para o planejamento dela. Ela está olhando para o planejamento dela e vendo: eu preciso pegar mais empréstimos, menos empréstimos? Eu preciso pedir dinheiro para acionista? Porque esse bloquinho aqui é quem vai fechar a conta.

Vamos supor... Vamos deixar esse numerozinho fechado aqui, menos R$40. Esse numerozinho aqui do investimento, então a gente tem que olhar para a depreciação do período. Vamos supor que a depreciação do período tenha sido... Colocar outros numerozinhos aqui, por isso que eu estou abrindo espaço.

Vamos supor que a empresa teve um lucro de... Eu falei que o fluxo de caixa operacional dela terminou em R$1.000. Então vamos supor que a empresa gerou um lucro de R$700. E aí ela teve uma depreciação no período, depreciação e amortização de R$300. Por que a depreciação está positiva aqui? Porque a depreciação é uma despesa, então ela é um número negativo na demonstração de resultados.

Ela diminuiu o lucro. Ela diminuiu esse lucro aqui, só que ela não afetou o caixa do período, então eu excluo ela para chegar no caixa da operação. E o fluxo de caixa de investimentos, eu tinha falado que era R$950. Então esse valor eu vou comparar com a ordem de grandeza de depreciação e amortização para saber: a empresa está investindo algo próximo da depreciação?

Não, está investindo mais de três vezes o valor da depreciação e da amortização, então ela está investindo de fato. Então, a demonstração dos fluxos de caixa é bem legal para a gente entender essa relação aqui dos fluxos de caixa operacional, de investimento e de financiamento.

Agora eu vou sugerir que você pegue o fluxo de caixa de uma empresa real e faça essa análise por blocos. Claro que é interessante olhar para os números grandes, tentar entender os números grandes da DFC, mas a principal ferramenta que você vai ter aqui como analista de demonstrações financeiras é olhar para a DFC por blocos e tentar tirar alguma interpretação útil disso.