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Eric Barreto fala sobre Monitoramento de Resultados

Eric Barreto fala sobre Monitoramento de Resultados
29/03/2017
Eric Barreto
Partner e Prof. do Insper

No início de 2017, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) publicou o caderno de governança corporativa número 18, intitulado “monitoramento de desempenho empresarial”, leitura indispensável não só para conselheiros, mas para diretores de quaisquer áreas e profissionais das áreas de contabilidade, controladoria e finanças. O documento não reinventa a roda e também não cria nenhuma forma de monitoramento disruptiva, mas faz um inventário de ferramentas de controle e boas práticas que, para profissionais zelosos, deve ser apenas o início de um estudo mais aprofundado.

O documento fala sobre estruturas de monitoramento empresarial e responsabilidades dos conselheiros, traz também um capítulo com fundamentos de governança corporativa, um sobre indicadores de monitoramento e outro sobre aspectos que um Conselho de Administração precisa considerar.

No capítulo de fundamentos, dois tópicos me fizeram lembrar das aulas de mestrado e doutorado da FEA USP: relato integrado e triple bottom line. Estudei esses assuntos lá pela primeira vez, entre 2007 e 2008. O professor, um cara com técnica apurada, inteligência, carisma, fluência verbal e uma camaradagem rara tanto no meio acadêmico como no empresarial, é um dos conselheiros que hoje emprestam sua credibilidade a uma companhia que já brilhou mais, embora ainda tenha muitos méritos e potencial para voltar a brilhar. Para ser mais exato, Nelson Carvalho é Presidente do Conselho de Administração da Petrobras desde meados de 2015, e esteve entre os principais responsáveis por espalhar no Brasil temas como internacionalização da contabilidade, relato integrado, contabilidade a valor justo, XBRL, etc.

Triple bottom line, segundo o documento do IBGC, é um instrumento alternativo para entender, agrupar e analisar as estratégias e os objetivos da organização. Tem esse nome porque utiliza três perspectivas de análise: financeira, pessoas e ambiental (em inglês, fica muito mais charmoso, porque as três palavras são iniciadas pela letra “P”: Profit, People, Planet). O desenvolvimento sustentável só acontece quando os três pilares desse tripé têm desempenho favorável, dizia minha colega Yara Cintra, professora da UFRJ que, durante o doutorado, se aprofundou mais no assunto.

No meu caso, confesso, o tripé é coxo. - Digo isso sabendo que a frase poderá ser retirada do contexto e usada contra mim... (risos) – No primeiro pilar do tripé (finanças), sou professor e me sinto bastante confortável; Como estudante e executivo, tive que buscar conhecimento sobre gestão de pessoas, não só funcionários, mas stakeholders, de forma geral, o que não faz de mim um especialista; No entanto, minha formação e interesses me deixam em posição bastante desconfortável para qualquer análise mais técnica sobre a perspectiva ambiental, embora entenda a importância de uma organização eliminar ou minimizar o impacto ambiental da sua atividade.

Vamos então falar sobre a perspectiva financeira, ou, mais especificamente, sobre geração de valor econômico ou criação de valor. Com um repertório razoável de indicadores, o caderno do IBGC nos faz refletir sobre algumas questões fundamentais:

  • O retorno do investimento é maior ou igual ao retorno de investimentos com risco similar?
  • O risco em relação a investimentos mais conservadores está refletido no retorno do investimento?
  • O retorno do investimento é maior ou igual ao custo dos empréstimos e financiamentos captados?

O documento fala sobre limitações de indicadores tradicionais, como ROE, ROA e EBITDA - O livro de análise avançada das demonstrações contábeis, dos professores Eliseu Martins, Josedilton e Gilberto Miranda, na minha opinião, é a melhor referência para entender as fragilidades dos indicadores financeiros – e oferece como alternativa uma abordagem focada na metodologia da gestão baseada em valor (Value Based Management - VBM). Obtém-se lucro econômico ou geração de valor quando o resultado operacional é superior ao custo de capital.

A metodologia do VBM estabelece que a remuneração mínima a ser obtida por uma organização deveria ser o seu custo médio ponderado de capital (weighted average cost of capital – WACC), que é a média ponderada do custo de oportunidade dos sócios com o custo do passivo oneroso (dívida bruta).

Assim, teríamos geração de valor quando o retorno sobre o capital investido (return on invested capital – ROIC) fosse maior do que o WACC. O ROIC formulado pelo caderno do IBGC é calculado da seguinte forma: lucro operacional líquido dos impostos sobre a renda (LOLIR) dividido pelo ativo operacional líquido, que é a soma do ativo não circulante (ANC) com a necessidade de capital de giro (NCG). A NCG, por sua vez, é a diferença entre o ativo circulante operacional e o passivo circulante operacional. Em resumo, ROIC = LOLIR / (ANC + NCG).

Na minha opinião, como comparamos o ROIC com o WACC, e esse segundo pondera o custo do capital próprio com o custo do passivo oneroso (e não da dívida líquida), o denominador da expressão de cálculo do ROIC seria melhor representado pelo capital investido, ou seja, a soma do patrimônio líquido (PL) com o passivo oneroso (PO). Em resumo, ROIC = LOLIR / (PL + PO). Aparentemente, esses números do denominador podem até parecer iguais, mas a partir de um simples exemplo, podemos ver que não são. Veja primeiro o exemplo de um balanço resumido em três grupos do lado do ativo (ativo circulante financeiro, ativo circulante operacional e ativo não circulante) e em quatro grupos do outro lado do balanço (passivo circulante financeiro, passivo circulante operacional, passivo não circulante financeiro e patrimônio líquido):

Podemos reagrupar esse balanço de forma que fique, do lado esquerdo, o ANC e a NCG (ACO – PCO), e do lado direito, o PL e a Dívida Líquida, que é a soma dos empréstimos de curto prazo com os de longo prazo subtraída do caixa e aplicações financeiras de curto prazo (PCF + PNCF - ACF):

Também podemos reagrupar esse balanço de outra forma, deixando do lado direito do balanço o PL e a dívida bruta, mantendo o ACF do lado esquerdo do balanço:

O ajuste no denominador do ROIC pode ser um preciosismo acadêmico da minha parte, mas já que estamos discutindo sobre algo novo e que, de fato, trouxe valor para a área de finanças, não poderia deixar de comentar. A diferença nem sempre será imaterial, dependendo do tamanho do ativo circulante financeiro.

 
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