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Agência Estado

Diretoria da Petrobras tenta apagar incêndio, fracassa e ações caem quase 10%

Diretoria da Petrobras tenta apagar incêndio, fracassa e ações caem quase 10%
15/12/2014
Agência Estado

Por André Magnabosco.

A necessidade encontrada pela Petrobras em estender o prazo para a divulgação dos resultados auditados, no mesmo dia em que a estatal informou a elaboração de um plano para não precisar buscar recursos no mercado internacional em 2015, indica que as alternativas para a companhia superar o momento delicado estão se esgotando. Analistas consideram improvável que a estatal consiga atingir o objetivo de gerar fluxo de caixa positivo em 2015, conforme anunciado na noite da última sexta-feira. Ao mesmo tempo, a queda dos preços internacionais do petróleo inviabiliza uma maior geração de caixa, assim como limita a capacidade da estatal em vender ativos a preços interessantes, justamente em um momento no qual a prioridade da diretoria parecer ser "apagar incêndios" originados na operação Lava Jato. Essa combinação, associada ao andamento das investigações da Polícia Federal, contribuem para a queda de mais de 7% nas ações da estatal neste momento.

A trajetória dos papéis nesta segunda-feira, dia em que as ações chegaram a ir para leilão com queda de quase 10%, reflete a crescente desconfiança dos investidores em relação à Petrobras e à capacidade da companhia em reverter no curto prazo e médio prazos a atual situação desfavorável. Especialistas ouvidos pelo Broadcast sugerem que a única alternativa para a Petrobras neste momento seria a troca da atual diretoria e uma reformulação do conselho de administração e da relação da estatal com o governo federal. Tais ações, associadas ao anúncio de medidas com foco em maior transparência, ajudariam a reverter a percepção negativa dos investidores, mas ainda seriam insuficientes para adequar as finanças da companhia.

Analistas financeiros descartam a possibilidade de a Petrobras não precisar captar recursos no mercado ao longo de 2015, dado que não acham factível a companhia gerar fluxo de caixa positivo a ponto de compensar a inexistência de tais captações. Para levantar recursos, contudo, a Petrobras precisa divulgar os recursos trimestrais auditados, mas na sexta-feira passada a companhia sinalizou que esses números podem ser conhecidos apenas no final do primeiro semestre. A companhia perderia, dessa forma, a chamada "janela de captações" do início do ano, período no qual a Petrobras é um ator tradicional.

A companhia poderia levantar recursos também via venda de ativos, mas surge, então, outro entrave: o preço do petróleo no patamar de US$ 60 o barril reduz a atratividade de ativos na área de Exploração e Produção (E&P). As outras áreas, consideradas menos relevantes dentro do portfólio de negócios da Petrobras, hoje são vistas como um fator de diversificação importante em um momento de queda no preço do petróleo.

Em paralelo, a companhia tem quase R$ 30 bilhões em dívidas a vencer até o final de 2015 e apenas R$ 70,3 bilhões em caixa - incluindo títulos públicos federais. Há, de forma evidente, um descasamento entre a capacidade de honrar os compromissos e manter o atual ritmo de investimentos, de mais de R$ 90 bilhões por ano. Essa equação pode ficar ainda mais adversa se a estatal não cumprir o cronograma de divulgação de resultados auditados e, conforme previsto nas cláusulas contratuais (covenants) com credores, ser cobrada antecipadamente por dívidas superiores a US$ 50 bilhões.

Torna-se fundamental para a companhia, então, manter a capacidade de acessar o mercado de dívida. Para tanto, precisa conseguir recuperar a credibilidade no mercado em um momento no qual o nome Petrobras está associado principalmente a investigações que apontam desvios bilionários na gestão da estatal.

"O problema da Petrobras tem origem essencialmente política. Por isso é preciso trocar a diretoria, reestruturar o conselho e mudar os procedimentos para o recrutamento de executivos e contratação de serviços e licitações. É o momento para a elaboração de um plano estratégico sem a visão política", afirmou um ex-diretor da Petrobras, que falou sob a condição de não ter seu nome revelado.

Mas os problemas da estatal vão além da recuperação da credibilidade. Os resultados operacionais precisarão mostrar que os investimentos bilionários feitos nos últimos anos trouxeram frutos, e por isso há a preocupação de que o foco da diretoria não se perca em meio à onda de denúncias. "Precisa ser criado um grupo para pensar o futuro da Petrobras", defendeu o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires. Crítico da intervenção federal na petrolífera, o antigo membro da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) propõe que o longo prazo da companhia seja analisado por um "grupo de especialistas".

O analista da Tendências Consultoria, Walter De Vitto, diz que a alternativa seria viável dado que o momento pode reduzir a prioridade dada às atividades operacionais. "O foco da diretoria neste momento estaria em 'apagar incêndio'", afirma o especialista. O professor do Insper e diretor da consultoria M2M, Eric Barreto, alerta que, do ponto de vista operacional, os números da Petrobras no quarto trimestre tendem a ser mais favoráveis em função da queda das perdas da área de Abastecimento - fruto da retração dos preços internacionais dos combustíveis - e do aumento da produção. Falta, ainda, recuperar a transparência da gestão.

Os números operacionais e a retomada da credibilidade, possivelmente a partir da mudança da diretoria, são considerados fundamentais para reverter o momento desfavorável enfrentado pela estatal. O valor de mercado da companhia está neste momento em R$ 117,2 bilhões, no pior patamar desde 2005, e o múltiplo P/VPA (preço por valor patrimonial por ação) fechou a sexta-feira passada em 0,4 vez, o que evidencia a percepção negativa dos investimentos em relação à Petrobras, sintetiza o consultor de investimentos André Rocha.